No dia 28 de novembro, a equipe da Comissão Ilha Ativa/Projeto FaunaMar e técnico do Instituto Chico Mendes/APA Delta do Parnaíba, estiveram na praia da Pedra do Sal, localizada no município de Parnaíba-PI, para o registro de um encalhe morto de filhote de peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus).
Imagem: Comissão Ilha Ativa/CIA
Há cerca de uma semana, pescadores da Pedra do Sal informaram à CIA e ICMBio/APA Delta do Parnaíba, sobre a avistagem de um peixe-boi na região, portando um equipamento. As equipes buscaram levantar mais informações com pescadores e moradores; e estiveram em campo, mas o animal não foi encontrado.
Nesta última quarta-feira (27 .11), a CIA e ICMBio/APA Delta do Parnaíba, foram informados pelo Instituto Tartarugas do Delta, sobre a ocorrência de um peixe-boi na Pedra do Sal.
As equipes da CIA, por meio do Projeto FaunaMar e ICMBio/APA Delta do Parnaíba, estiveram em campo na manhã desta quinta-feira e registram o animal, que não portava equipamento, ou seja, não se trata do mesmo animal avistado por pescadores.
Em campo, verificou-se que o animal localizado era um filhote, macho e media 137 centímetros de comprimento total. O filhote estava em avançado estado de decomposição, impossibilitando determinar a causa mortis.
Imagem: Comissão Ilha Ativa/CIA
Segundo os técnicos da CIA/FaunaMar, acredita-se que o filhote tenha nascido em mar aberto e tenha vindo a óbito há alguns dias, em função do seu estado avançado de decomposição.
“Essa ocorrência representa uma perda significativa para o ecossistema costeiro e para a conservação da espécie. Desde 2016, somam-se onze filhotes que encalharam no nosso litoral. Desse total de onze, quatro filhotes foram encontrados mortos e sete resgatados vivos pela CIA/FaunaMar e ICMBio/APA Delta do Parnaíba. Hoje, esses animais resgatados encontram-se no Centro de Mamíferos Aquáticos-CMA, em Itamaracá-PE, passando pelo processo de reabilitação, disse Liliana Souza, bióloga do Projeto FaunaMar/CIA.
De acordo com a bióloga, esses dados reforçam a necessidade de entender o que vem afetando o nosso litoral e causando esses encalhes. “Estamos em uma região com uma intensa ocupação costeira, supressão de vegetação, o que afeta diretamente as áreas abrigadas que são prioritárias para a conservação da espécie. Essas ameaças podem estar relacionada às ocorrências dos encalhes”, relata Liliana Souza.
“Esse é o segundo encalhe de filhote de peixe-boi na região da Pedra do Sal. O primeiro foi em 2023, onde resgatamos o animal com vida e agora registramos um animal morto, sendo na mesma região. Precisamos ficar atentos e fortalecer as ações para proteger o peixe-boi marinho, que é espécie chave para o equilíbrio ambiental”, relata Matheus Oliveira, agente ambiental da APA Delta do Parnaíba.
Causas de encalhes de peixe-bois
O Piauí vem apresentando sucessivos encalhes de filhotes/neonatos, desde o ano de 2016.
No Brasil, as principais ameaças à espécie são: colisões e atropelamentos; perda e degradação de habitats; encalhes de neonatos; lixo e contaminantes; turismo de observação; molestamento; e exploração de petróleo e gás.
Nos estudos realizados por diversos pesquisadores, uma das grandes ameaças listadas para os peixes-bois nos estuários Timonha e Ubatuba; e Camurupim e Cardoso, é o avanço das fazendas de camarão e salinas, que são instaladas principalmente nas áreas de manguezais, que são locais prioritários para conservação da espécie.
Antigamente, a maior ameaça aos peixes-bois marinho era a caça predatória, que dizimou grande parte da população que ocupa a costa brasileira. Além da caça, a captura acidental, com a pesca de arrasto para camarão, que também causa destruição dos bancos de fanerogramas marinhas, locais onde a espécie se alimenta.
No Piauí, tem-se identificado uma crescente ocupação desordenada, especulação imobiliária nas áreas consideradas Áreas de Preservação, regiões costeiras, mangues, entre outras, diminuindo a área de vida, causando perda de habitat, redução das áreas para as fêmeas parirem seus filhotes, fazendo com que as mesmas tenham suas crias em mar aberto, causando os encalhes dos neonatos.
Entende-se que é preciso fortalecer as ações de preservação da espécie, com maior fiscalização e aplicação de penas, além da recuperação dos danos ambientais, contribuindo para a redução das ameaças que incidem sob as populações de peixes-bois.